Sobre a perda e o luto infantil

Semana passada soube que o cachorro do meu afilhado, que tem 06 anos e mora longe, morreu. Fiquei pensando em como teriam explicado o fato a ele. Esta semana este questionamento surgiu no blog, em função da perda de um ente da colunista do “Carinho de Doula”. Decidi então abordar o assunto neste post.
Embora a morte seja algo natural e presente na vida, nossa cultura nos faz ter dificuldade em lidar/falar sobre ela. Das crianças, então, é comum retiramos o direito delas de conviver com o fato, evitando que visitem pessoas doentes em hospitais e que participem em velórios e enterros. Não raras vezes nos omitimos frente aos questionamentos delas, ocultamos a verdade e negamos a morte, silenciando ou ainda explicando-a através de metáforas.
Embora esse comportamento tenha a intenção de evitar o sofrimento da criança, ele pode ser dificultador da elaboração da perda. Vale lembrar que desde bebê a criança vem sofrendo perdas, a exemplo do desmame, retirado do bico, um brinquedo que quebrou, e talvez até outras perdas mais significativas advindas de diferentes situações de vida, a exemplo de uma mudança de casa, de escola, separação de pais, etc.
Estudos mostram que as crianças, indiferente do nível cognitivo, vivem o luto – adaptação frente à perda - quando ocorre a morte de uma pessoa que ela tenha um vínculo afetivo. Cada uma delas tem uma percepção e entendimento do que significa a morte, sendo importante conhecermos essa concepção antes de abordarmos o assunto, inclusive para saber o que ela é capaz de compreender. Por isso a comunicação com ela deve respeitar seu nível de maturação e compreensão e ser clara.
A perda gera sentimentos distintos na criança e todos eles fazem parte do processo normal do luto: medo de ser abandonado, culpa, saudade da figura perdida, raiva por não reencontrá-la. Quanto mais esses sentimentos forem expressos, menos possibilidade da perda se transformar em algo patológico (BOWLBY, 2006). Por isso a necessidade de incentivar a criança a falar sobre a perda, para que ela entenda que a morte faz parte do curso da vida e consiga praticar o desapego. Indica-se o uso de material lúdico, porque a criança tem dificuldade em expressar sentimentos e, através do brincar, ela pode elaborar seu processo de luto, vivenciando as fases até que chegue a aceitação. Vale lembrar que existem autores que afirmam que a elaboração do luto infantil é processada em distintos momentos da vida, pois à medida que vai ocorrendo a estruturação psíquica ela vai podendo significar o que viveu.

Se você viveu uma situação de perda/luto com seu(sua) filho(a), gostaríamos de saber como lidou com o fato. Compartilhe conosco sua história, ou outra percepção sobre o post.